quinta-feira, maio 31, 2007

Magical Pieces

Vem aí, vem aí!

Os tempos são outros, mais modernos e presos a velocidades extremas, mas nem por isso me consigo afastar do antes, do tradicional. Há alturas em que me pergunto se não estarei a ficar velha, tão apegada às coisas do passado mas, no fundo, esses momentos foram os que me contruiram e que fazem aquela que sou hoje. Por isso, na era da ciber esfera há momentos preciosos que conservo religiosamente. Um deles é a chegada do carteiro. Quando era miúda pisava a terra dos canteiros para espreitar pelo muro, empoleirava-me no portão pequeno ou dentro de casa espreitava pelos buraquinhos dos estores. A espera ao carteiro era serradíssima! E o malandro ainda ia primeiro aos números pares e só depois passava pela nossa porta!

Quem se lembra disto que ponha o dedo no ar! Eu tinha um cento deles, rapazes e raparigas, e enviar uma carta era meio caminho andado para andar dias meia angustiada à espera da resposta. A escrita no papel era a nossa forma de estar em contacto com quem morava longe, desenvolvia a nossa curiosidade pelos hábitos e gostos dos outros e, claro está, pela pessoa em si. Recebiam-se fotografias e presentes, admiravam-se os selos, os envelopes, enfim, era outro mundo, esse da correspondência.


Depois fui para Erasmus e as cartas e os postais voltaram. Hoje guardo-as numa caixa. De vez em quando leio-as.


A última que recebi foi de uma amiga, a T., no Natal. Para falar a verdade se há coisa que me irrita solenemente são as mensagens pouco personalizadas que se enviam nessas alturas e receber um postal com desejos de Feliz qualquer coisa é milhentas vezes mais gratificante do que receber aqueles dizeres sem sal em que O Pai Natal dexeu da xaminé e disse, só p ti, Felix Natal!

Tenho saudades de receber correspondência que não sejam as infelizes contas para pagar. Essas não as quero, não me dão prazer abrir nem ler. Já não quero saber do carteiro, malandro mais uma vez, que ajuda a desgraçar-me a bolsa, com tanta conta a preto e branco. Por isso, partilho convosco o que recebi hoje e que fugiu da rotina. Veio daqui e fez-me sorrir e recordar a ansiedade que antes sentia e também relembrar que é tão bom receber uma carta.

2 comentários:

miquinhas e cia disse...

Soubera eu que gostavas tanto de cartas e comentava o teu blog utilizando esse meio de comunicação fantástico. Depois de ler este post fiquei saudosista. Realmente, as únicas cartas que recebo são de contas para pagar, ou do banco a dizer que a prestação da casa vai subir.
Actualmente somos muito comodistas: sentamo-nos frente a esta maquineta e fazemos tudo e mais alguma coisa, e a única emoção é quando verificamos que não ocorreu nenhum erro na transmissão da mensagem.
Recordo-me do tempo em que não existiam estas tecnologias e tinhamos de enviar as cartas: a escolha do papel (algum colorido, com desenhos fantásticos, outras vezes com perfume, ou recortado de forma artística a toda a volta, com dizeres que manifestavam o nosso estado hormonal...). Que belos tempos, e ainda havia envelopes a condizer e pequenos bloquinhos também iguais, cujas folhinhas mandávamos às nossas amigas como símbolo de amizade e partilha de experiências. Ó saudade, saudade, agora deixaste-me piegas!
Até os carteiros são diferentes, o que vive na minha rua anda de moto-quatro. Como me lembro do antigamente, numa daquelas bicicletas a pedal pretas, imponentes, bicicleta de homem, com um quadro que afastava o pudor feminino.
Fico-me por aqui, que este comentário já está a ficar maior que o post.
Querida Anadosol, fico feliz por verificar que certo marcador navega entre as saudades e memórias dos tempos em que a qualidade de vida passava por uma hora sentada debaixo de uma árvore, caneta e papel na mão, e o contemplar das nuvens que passam empurradas pela suave brisa e que despertam as palavras mais doces, mais sentidas, carregadas de experiências, sentimentos verdadeiros e emoções.
Um beijinho grande, grande

Anadosol disse...

Miquinhas, alegra-me sempre ler os teus comentários. São uma verdadeira delícia. Termos coisas em comum faz-nos sentir mais acompanhadas e há sempre coisas que dão vontade de relembrar. Essas folhas e blocos são as "folhas fofinhas" que antes eram guardadas dentro das embalagens dos collants para não perderem o perfume :) Os momentos "piegas" em dose q.b. fazem bem ao coração...

obrigada e um beijinho :)